7 de abr. de 2015

Hieróglifos da vida...


Está fazendo um último dia do ano chuvoso, acinzentado... um último dia do ano de verão atípico... Enquanto ouço as gotas de chuva batendo nas vidraças, na memória resgato momentos vividos no decorrer do ano. Sim, porque é de praxe neste dia a tal retrospectiva. Porém, acredito que mais do que uma retrospectiva, há de se fazer uma reflexão. Então, para não perder o velho hábito de escrever, literalmente, pego meu caderno de “escritos”, sento-me na sacada do apartamento e a priori fico observando as gotículas de chuva que escorrem pelo vidro... parecem desenhar hieróglifos conforme deslizam... umas lentamente, outras rapidamente, e ainda outras, de forma moderada... ela embalam o meu ritmo do meu “escrito”.
Assim, impossível não fazer uma analogia entre a chuva na vidraça, os hieróglifos e a vida... A chuva porque é cheia de vida; os hieróglifos porque são cheios de enigmas; e a vida porque é cheia de hieróglifos.... Hieróglifos estes que por muitas vezes são tão enigmáticos, que por mais que buscamos tentar entende-los, não conseguimos decifrá-los! Talvez porque, momentaneamente, não há necessidade de entendê-lo... então, vem o tempo e te mostra que aquele hieróglifo tinha que ser daquele jeito que foi naquele momento... seja ele dolorido, seja ele injusto, ou até sem entendimento, mas havia necessidade de vivê-lo, pois, com o tempo, você percebe que ele te fez crescer, amadurecer... O que foi um sofrimento no passado, hoje você percebe que precisava passar por aquilo para se transformar no que você é hoje...
Quantos momentos hieróglifos enigmáticos este ano me trouxe... Momentos estes que nos deixam mais ásperos em alguns sentidos, mais fortes em outros, e também em outros, mais delicados, mais cuidadosos... Todos importantes... afinal, eles nos constroem, e nós escolhemos como usá-los. Bom seria se pudéssemos viver constantemente no modo delicadeza... E ao falar em delicadeza, impossível não lembrar do poeta da delicadeza, Manoel de Barros que disse: “o olho vê, a lembrança revê e a imaginação transvê... é preciso transver o mundo”... Sim, faz-se necessário transVER o mundo, os momentos, as ações, a vida; é preciso acAMAR as indelicadezas, e assim, quem sabe, decifra os hieróglifos de nossa vida... quem sabe assim, 2015 venha pleno em imaginação!
Que o meu, o seu, o nosso ano seja cheio de imaginação, que este momento não seja só de promessas, pois todo novo ano chega cheio de promessas.... planejamos, projetamos, e principalmente desejamos inúmeras coisas para o ano que vai nascer... Assim, este ano pedirei coisas diferentes... pedirei delicadeza, sabedoria, serenidade... e que o amor ecoe pelo ano inteiro, tão intensamente quanto o som dos fogos de artifício da virada de ano!
E assim a vida segue, em vários ritmos... Neste momento, no embalo/ritmo da chuva, porém, na vida, nos momentos hieróglifos, a partitura somos nós que escolhemos... Ah, a música” Aquela que acalma a alma e aquece o coração... aquela que nos faz refletir... e esta, que agora toca suavemente ao fundo, enquanto vivo meu momento de “escritos”... e nada melhor para traduzir os hieróglifos desta que vos escreve do que as palavras de Clarice Lispector: "Eu sou uma eterna apaixonada por palavras, músicas e pessoas inteiras. Não me importa seu sobrenome, onde você nasceu, quanto carrega no bolso. Pessoas vazias são chatas e me dão sono"... acrescentaria também as oportunistas e maldosas...
Agora, se me dão licença, vou aí agradecer o ano que finda e terminar minha partitura para o ano que vem chegando! Feliz 2015! Que venha cheio de imaginação, de delicadeza, de pessoas inteiras, de saúde e de amor, muito amor!

                                                  Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 31/12/2014

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