16 de out. de 2011

Professor: uma composição...


“Nós temos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som”, assim diz Lulu Santos em uma de suas belas canções. E quem não o é? Quem diria que ao compor esta música, estaria ele traçando o perfil de milhares, milhões de trabalhadores brasileiros, e por que não seres humanos como um todo? Deter-me-ei, então, em minha profissão. A profissão professor. Aquela que é super constituída de medo e desejo, silêncio e som.
Muitos perguntariam: o professor tem medo de quê? Respondo-lhes, com a voz e a experiência desta profissão, tão pouco reconhecida, e por muitos, não lembrada: o professor tem medo da violência verbal, da violência gestual, da intimidação; tem medo de determinadas atitudes; tem medo do vocabulário inadequado; tem medo da vulgaridade; tem medo de expressões faciais maldosas; têm medo de olhares severos, olhares reprovadores; tem medo de ser hostilizado; tem medo de adoecer em decorrência de tudo isso; enfim, tem medo do medo...
Ah! mas o professor tem desejos! Sonha com estes desejos que possam fazê-lo superar o medo! Desejo de um ambiente saudável; desejo da retomada de valores; desejo de mudança de postura; desejo de carinho; desejo de ser visto de verdade; desejo de ser respeitado de verdade; e principalmente, desejo de ser valorizado e não de dissimuladamente, ser tratado como incompetente; desejo de não adoecer; desejo de ser ouvido; desejo de não ser hostilizado; desejo de condições dignadas de trabalho; desejos, desejo e desejos.... que tem como sinônimo: esperança, esperança e esperança...
E o silêncio? O que nos faz calar? O silêncio é reflexo do medo... este medo que oprime, que constrange... Silenciamos porque por muitas vezes precisamos; silenciamos porque este silêncio também garante nosso sustento. Silenciamos, porque o silêncio também é gentileza, e por muitas vezes, uma poderosa ferramenta para demonstrar a indignação, ou até mesmo para camuflar esta indignação.
Somos feitos de medo, de desejo e de silêncio... mas, felizmente, somos feitos também de som!! Porém, quem é feito de som, nem sempre é bem visto, ou melhor, quase sempre é visto como incomodativo, estressado, alterado... Quem emite o som, aquele som que pede mudanças, que reivindica dignidade, respeito, normalmente não é bem quisto. Muito bem, que não o seja bem quisto por todos, mas que continue emitindo este som, tão necessário em todas as profissões.
Professor, você que é constituído de medo, desejo, silêncio e som, e que ainda gosta de ser professor, receba o respeito e o carinho desta que vos escreve, que é constituída de todos estes sentimentos, que deixa aflorar mais o som, como podem perceber, e que ainda gosta de ser professora, profissão tão nobre quanto tantas outras, porém esquecida por quem mais gostaríamos que lembrassem: a comunidade escolar. Como diz a canção: “tem certas coisas que eu não sei dizer...”.
Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 15/10/2011

3 de out. de 2011

A cidade de cimento

 
Movimento, barulhos, sirenes, carros, buzinas, helicópteros, pessoas, pessoas e pessoas... A cidade de cimento é medonha, a cidade de cimento é sinistra, a cidade de cimento é assustadora, a cidade de cimento é intrigante, mas a cidade de cimento também é encantadora, é atrativa, é humana, e satisfaz a todos os gostos. Ela não para nunca. Você tem tudo a toda hora, seja dia, ou seja noite.
Esta cidade de cimento recebe todo tipo de gente todos os dias. E recebeu gente como nós. Alguns curiosos, outros ansiosos, outros ainda encantados e porque não dizer apreensivos ou talvez decepcionados. Muitas reações... sim, porque ela tem esta capacidade, a de despertar muitas reações.
Ao percorrer as ruas de cimento, da cidade de cimento, começo a observar as construções de cimento. O que tem por trás daquelas portas, daquelas paredes de cimento? Quantas vidas se escondem aí? Quanto sofrimento? Quanta alegria? Quantas histórias? As mais diversas, com certeza. E agora esta cidade de cimento, onde também há muito sentimento, passa a fazer parte da minha história, da nossa história!
Quantas belezas/oportunidades a cidade da garoa nos proporciona e que constatamos no nosso itinerário: a imponência do Museu do Ipiranga; a biodiversidade do aquário; o terror e o pânico despertado pelo filme escolhido para ver no cine Imax; a diversão, a adrenalina, a loucura do Hopi Hari; o encantamento das palavras no Museu da Língua Portuguesa; a paixão pelo futebol no Museu do Futebol; a diversidade e interatividade da Fundação Cataventos; a magnitude da Livraria Cultura e a modernidade da Avenida Paulista. Ah! e o espetáculo musical! Este, reservo um parágrafo a parte.
Na cidade de cimento tem emoção, tem Teatro Bradesco, e nele As Bruxas de Eastwick, uma comédia musical de John Dampsey e Dana P. Rowe, com versão brasileira de Claudio Botelho. Um verdadeiro espetáculo, destes de deixar qualquer um com gostinho de quero mais, eu disse qualquer um, todos. E foi assim que ficamos quando acabou o primeiro ato... todos voltaram rapidinho para ver o que o espetáculo, com orquestra ao vivo, tinha ainda para nos oferecer. E tinha ainda mais do que já nos oferecera... uma comédia baseada na história de três amigas entediadas e frustradas com a pacata cidade de Eastwick, que dividem o desejo pelo homem ideal. Com a chegada de Darryl Van Horne à cidade, extremamente sedutor, desperta em cada uma a necessidade de liberar seus “poderes”. O comportamento nada ortodoxo do quarteto escandaliza a cidade... Enfim, Maria Clara Gueiros, Eduardo Galvão, Fafy Siqueira e elenco, dão um show em uma comédia musical, sensual e misteriosa, que fez todo  espectador, inclusive nós,  se deliciar e morrer de rir! Chega, filhote de família Adams!!!
Na cidade de cimento, tem gente cansada... tem gente reclamando... tem gente perguntando... gente andando de metrô... gente machucada... gente perdendo documentos... gente indo para hospital... gente sem sono... gente barulhenta... gente com seu idiomaterno... gente com seu idioma materno e gente com seu idioma terno.... São Paulo é isso... tem gente de todo tipo, gente de todo gosto... gente como nós, como eu, como você!!! Gente que busca viver feliz, que busca ser gente!
Por: Rosane Favaretto Lazzarin - 03/10/2011

8 de set. de 2011

Quando você se sente pela metade...


O ser humano nasceu para se sentir inteiro, completo. Não foi ensinado a se sentir pela metade. E lhes digo, sentir-se pela metade dói.  Mas, quando nos sentimos pela metade? O que nos faz sentir pela metade? E mais, quantas pessoas nós já fizemos se sentirem pela metade? E... será que somos capazes de sentir pela metade? Questionamentos no mínimo intrigantes, não acham?
Buscamos a plenitude em nossa vida, e isso é fato. Queremos viver intensamente, carpe diem! Tentamos curtir ao máximo. Trabalhamos muito porque almejamos grandes conquistas. Lutamos para existir, simplesmente. Porém, para tudo isso, faz-se necessário muito empenho, e também contar com os outros. Pois é, os outros... aí nos angustiamos um pouco, porque nem sempre os outros estão dispostos a contribuir. Então, vem o primeiro sentir-se pela metade. Sentimo-nos pela metade porque projetamos uma expectativa no outro, que nem sempre a encontramos; e principalmente, porque não estávamos preparados para a não correspondência desta expectativa. Esse sentir-se pela metade, chamo de frustração.
E sabem por que nos frustramos facilmente?  Porque ao  projetarmos nossas expectativas nos outros, não nos damos conta de que os outros não são iguais a nós. Que cada outro tem a sua potencialidade, que cada outro é um ser único.  É impressionante como conseguimos facilmente nos sentirmos pela metade. Sim, facilmente. Vejam: brigar com os pais, com um amigo, ou amiga; ser ignorada ou criticada; falta de ética; falta de cuidado; falta de bom senso; falta de paciência; o olhar, o falar e o agir fingidor... enfim, são inúmeras as possibilidades que podem nos fazer sentir pela metade.
É certo que é muito mais fácil falar do que nos faz sentir pela metade. Agora, você já se perguntou quantas vezes fez alguém se sentir pela metade? Aposto que poucas, ou nenhuma. Claro, é mais fácil ser a vítima, ou mártir. É mais cômodo também. Imagina, ninguém quer sentir-se culpado por fazer alguém sofrer, se sentir diminuído... E o pior de tudo é que essas pessoas costumam dizer que tomam tais atitudes para o bem do outro. Não se dão conta de que aos poucos, a conta gotas, matam a vivacidade, a vontade de fazer, que o outro ser, ainda possui. Fazer o outro se sentir pela metade, é especialidade de muitos. E é por tudo isso que também não vemos mais pessoas tomando iniciativas, fazendo a diferença... Podem até estar pensando: “ah, mas se quiser mesmo, faz!”. Digo-lhes que não é bem assim. E vocês sabem que não é mesmo. Na verdade, o ideal seria que as pessoas pudessem perceber o mal que cometem e parassem para pensar um pouco, antes de fazer os outros se sentirem pela metade... Mas, como o ideal não existe, ficamos cá sonhando com ele.
Mas, e a possibilidade de sentir pela metade? Você consegue amar pela metade? Bom, essas últimas indagações são difíceis de responder, porque esta que vos escreve, que é perfeccionista, que vive tudo intensamente, e que por isso, nem sempre é bem interpretada, e sim por diversas vezes é vista como ansiosa, como mal-humorada... sofre  por sentir-se diariamente pela metade... Triste sentimento de quem se cobra demais... Mas, posso lhes garantir, que jamais conseguiria sentir pela metade... Agora, se me derem licença, vou garimpar minha outra metade....
Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 07/09/2011

7 de ago. de 2011

Espaços...


Sempre que me perguntam sobre espaço, fico imaginando que espaço é esse...  Se estiver falando da minha casa, do meu cantinho, então, este espaço é meu e não se discute. Agora, se estivermos falando do espaço de trabalho, aí, o espaço não é mais meu, faço parte do espaço. Então fico a me questionar novamente: o que faz as pessoas pensarem que são donas do espaço? Será que não conseguem se desligar do espaço casa? Será que fazem o trabalho uma extensão de sua casa? Que o ser humano é possessivo todos nós sabemos. Mas, até que ponto posso me adonar de um espaço no trabalho? Ser responsável por um espaço, não significa ser dono dele. Precisa sim zelar, cuidar, organizar, sentir-se bem no ambiente de trabalho. Porém, isso não é o suficiente. Precisa-se também zelar, cuidar e fazer sentir bem quem trabalha neste mesmo ambiente que você, seu colegas de trabalho. Quando eu falo fazer sentir bem, não significa que temos que ser amigo de todos, significa usar de profissionalismo com todos.
Precisa-se urgentemente de pessoas delicadas, de pessoas que saibam lidar com pessoas, de pessoas como diz minha diretora “de fino trato”, de pessoas que saibam separar, ou pelo menos tentar separar, o pessoal do profissional. Enfim, precisa-se de profissionais que não tenham medo de ensinar o que sabem, por achar que o seu colega pode ser melhor do que você; ou será que o medo é que o seu colega já seja melhor do que você?
Voltemos aos espaços. Preciso de um lugar onde eu possa desenvolver meu trabalho tranquilamente, um lugar onde o responsável do espaço viabilize o meu trabalho e não se torne empecilho. Pessoas que se adonam dos espaços se tornam empecilhos. Não se dão conta de que está aí para viabilizar que as coisas aconteçam, e não para simplesmente ocuparem um lugar. Será que não se dão conta que se classificadas como somente ocupar um lugar, automaticamente são classificadas como espaçosas? Muitas pensam que ocupar um cargo lhes dá visibilidade profissional. Nem sempre, pois se você não souber desempenhar sua função, ao invés de se promover, está assinando seu atestado de incompetência. Sim, incompetência, porque se não desenvolver um bom trabalho, todos perceberão e assim, ganhará o título de incompetente. E este título, ninguém quer no seu currículo.
Precisa-se urgentemente de profissionais que veem além de sua mesa. Profissionais atuantes. Profissionais que atendam as expectativas das pessoas que estão gerenciando. Um responsável que trabalha em um espaço com os mais diversos tipos de pessoas, precisa primeiro atender aos interesses das pessoas que ocupam este espaço, ou seja, do grupo, para depois atender o particular. Profissionais ocupam o espaço como responsável, inseguros ocupam o espaço com adonamento. Precisa-se de profissionais que te convidam a entrar no seu espaço e não que te deixam intimidados porque não sabe como será tratado. Precisa-se de profissionais que tratam os outros profissionais com igualdade. Não falo aqui de igualdade no que se refere a regras, falo em igualdade de gentileza, de simpatia, de receptividade.
E você, ocupa o espaço que trabalha como responsável, viabilizando o trabalho do grupo ou se adona do lugar? Hora de pensar nisso, pois o mercado de trabalho, hoje, precisa de profissionais responsáveis e não de pessoas que se adonam de espaços, inviabilizando que o processo aconteça. E nestes espaços, sejamos delicados, urgentemente delicados...
Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 09/06/2011

22 de jul. de 2011

Assombrações coloridas...


E se... e, conjunção coordenativa aditiva... se, conjunção subordinativa condicional... Ambas se colocadas separadas, não tem significado nenhum, mas juntas tornam-se uma incógnita. Vejam: e se... eu tivesse feito de forma diferente? E se... eu não julgasse? E se... eu me permitisse viver?
Viver... Dentro de cada um de nós existem encruzilhadas, engarrafamentos, sirenes... Isso mesmo, dentro de cada um existe o caos... muitas vezes mal sabemos que caminho seguir, que sirene ouvir, como fugir do engarrafamento... Complicado não é mesmo? Pois é, quando me perguntam que parte da vida é complicada, eu prontamente respondo: a vida é a parte complicada... Mas será? Será que a vida é que é complicada, ou somos nós quem a complicamos?
Talvez nem tenhamos a intenção de complicá-la... Talvez seja uma forma de acomodar o caos. Talvez seja um segredo inconfessável... e que segredo seria este? Este segredo inconfessável, que eu, você, e todos nós temos chama-se MEDO. É ele, o medo que nos bloqueia, que nos impede de escolher o caminho certo na encruzilhada, que nos impede de enfrentar o engarrafamento e que nos impede de ouvir a sirene de alerta... a sirene que nos acorda para a vida, aquela que nos dá a permissão de viver.
E se... olha só, lá vem a incógnita novamente... e se... o medo fosse só um estado de espírito? E se... nós conseguíssemos chutar o medo bem onde dói? E se... nós conseguíssemos sempre encará-lo de frente? São tantas perguntas não é mesmo? E essas perguntas sem respostas se tornam assombrações. Isso mesmo, assombrações. O bom dessas assombrações é que elas são coloridas. E se... essas assombrações tivessem uma forma, que forma, ou que cor elas teriam? Bom, aí eu lhes digo que depende dos olhos de quem as veem.
Uns podem ver a vida azeda. Para estes, todas as pessoas que estão próximas estão de mau-humor, tem problemas. Para estes, preocupação é mau-humor. Para estes, fica mais fácil transferir o que está sentindo para o outro. Para estes a vida é tecida com um fio da cor preta. Para estes a vida é o caos, é a escuridão.
Outros podem ver a vida doce. Para estes, um dos maiores prazeres da vida é alguém pentear os seus cabelos. Um gesto simples, porém acalentador. Para estes prevalece o cuidar onde dói ou o que fez doer. Para estes, o medo é um estado de espírito. Para estes a vida é tecida com fios da cor branca e vermelha. Sim, com fios cheios de calma, pureza, paixão e sentimento.
Entre uns e outros... sou mais dos outros, porque para estes a vida é um cartão tecido com fios de vida, com fios de amor... e quando falamos de amor, todos os uns são apenas uns... Divaguei? Quem sabe... mas lhes digo: o medo, a incompreensão nos deixa exatamente assim: sem rumo... Agora, se me derem licença, esta que vos escreve, e que gosta de pessoas, e pessoas sinceras, com luz própria, vai procurar alguém para pentear seus cabelos e se... permitir viver...

Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 22/07/2011

19 de jul. de 2011

Concórdia e seus olhares...


 “Ela nasceu pequenina e cresceu, cheia de belezas mil, grande será, pois seu nome já está, na geografia do Brasil...”

É no ritmo do que foi o hino de Concórdia por muitos anos que vou delinear alguns traços de Concórdia, uma cidade que tem um povo trabalhador, mas que também sabe ser acolhedor, hospitaleiro, humilde, simples, mas não desconhecido. Lugar distante de tudo, mas com um povo que tem orgulho de ser concordiano!!! Ops, aí vem a dúvida, concordiano ou concordiense? Não vou me deter a explicar a aplicação destes, pois aqui vou falar sobre o melhor de Concórdia. Heim? Melhor de Concórdia? É isso mesmo, vou falar do melhor de Concórdia. Aí, você que aqui vive, pode me perguntar: e o que tem de melhor? E eu lhes digo: muita, muita coisa... só lhes falta tempo para observar o que esta cidade lhe oferece.
Eu não sei, mas alguma coisa acontece por aqui que merece atenção, e muita. Cidades são como pessoas, com personalidade, jeito, manias, estética, modos ou falta deles. E o mais importante, a gente a percebe, justamente, pelo jeito das pessoas que nela vivem. Cidades são muito mais do que shoppings e ruas e empresas. Elas são formadas pelas pessoas que mostram o que são pelo que fazem com o seu tempo. E por falar em tempo, quem não se recorda com certa nostalgia da cidade que nasceu pequenina... Muitos, não é mesmo? Mas, esta pequenina cidade cresceu, evoluiu, modernizou...
Sabem o que é interessante neste progresso todo? O interessante é que mesmo com todo este desenvolvimento, algumas características permaneceram, alguns valores, a qualidade de vida, a forma de acolher. A pequenina cidade, agora já com cara de gente grande, encanta quem nela chega. A pequenina cidade é comparada a um país de primeiro mundo. Sim, com um país de primeiro mundo, pois aqui nós temos uma cidade limpa, uma cidade sem moradores de rua, uma cidade onde pedestres punham o pé na faixa e os carros param para que estes possam passar. Claro que existem as exceções, como em todas as cidades, mas são raras. Uma cidade com pessoas educadas e segura. Uma cidade com muito capital de giro. Uma cidade próspera. Uma cidade que se destaca em nível de Brasil, por suas empresas. Uma cidade com uma agricultura e pecuária construída por pessoas simples, por vezes anônimas, mas que deram início à maior agroindústria do país, que hoje é destaque no mundo todo.
Somos, sim, conhecidos como a “capital do trabalho”, e não é para menos que recebemos este título. Aqui se trabalha muito, mas isso não quer dizer que não temos lazer. Temos sim. A única diferença é que vivemos em uma cidade pequena, com cara de gente grande, como já falei anteriormente, e frequentamos lugares onde vemos sempre as mesmas caras. Aqui nos é oferecido várias opções, as músicas que tocam nas baladas por aqui, tocam em qualquer outro lugar. A diferença que aqui, encontramos nas baladas as mesmas pessoas com as quais convivemos no trabalho. E, ver as mesmas caras, as mesmas pessoas, não significa que não temos lazer, não é mesmo? Ah! e que empolga com seu futebol!
E eu acho que Concórdia também tem uma genética própria. Uma educação própria, com muitas comunidades linguísticas. Um jeito próprio de ser... Por aqui nós ainda vemos pessoas andando tranquilamente pelas ruas, por aqui o comércio ainda fecha na hora do almoço, para que os trabalhadores possam ter a sua merecida hora de almoço. Por aqui nós ainda ouvimos um por favor, obrigada, com licença... Por aqui tudo é perto, por aqui o ar ainda é respirável... Por aqui, as pessoas cuidam da saúde, fazem atividade física. Por aqui, ainda há certa liberdade, e por incrível que parece, aqui ainda perpetua alguns valores... É por tudo isso que Concórdia é exatamente o tipo de cidade de que a gente gosta. O tipo de cidade que muitos saem com a utopia que lá fora, em outra cidade, é melhor de se viver, mas que acaba voltando, pois percebe que o melhor lugar para se viver é aqui... onde tudo é perto e ao mesmo tempo, é longe de tudo... e é justamente, por toda esta contradição que ela encanta.
E eu sigo por aqui, acompanhando o desenvolvimento da pitoresca e pequenina cidade que cresceu e toma conta da geografia do Brasil, por suas belezas, suas empresas, sua personalidade, suas manias... Enfim, com seu jeito único de ser, porque quem lhes escreve é assim, cheia de personalidade e manias, que gosta de livros, claro, mas antes de mais nada, gosta de pessoas...

Por: Rosane F. Lazzarin

OBS: Texto publicado na edição IV da Revista Magazine21

A gélida beleza das coisas...

É inverno... ou melhor, quase inverno. Faz tanto frio por aqui que nem nos damos conta que ainda é outono... Então, neste outono com cara e corpo de inverno, sentada na sacada do meu apartamento, admiro a linda vista. Luzes iluminam a cidade. Tenho a sensação de que elas aquecem um pouco o gélido dia... Muito mais do que as luzes o que aquece também é o calor humano. E por falar em calor humano, me vem à memória o aconchego e com este o sentir-se acolhido, cuidado!
Ah! Como é bom chegar a algum lugar e sentir-se acolhido, cuidado! Temos a sensação de que somos bem-vindos, a sensação de que somos queridos, de que somos esperados! E quando somos bem atendidos então? Nossa, passamos a simpatizar, a elogiar a pessoa que nos é receptivo. Pois é, pena que nem todos veem esta acolhida, este cuidado com bons olhos. Como o ser humano é complicado não? Ao invés de fazer algo para se tornar uma pessoa querida, passa a criticar o outro. E não se dá conta que agindo desta forma é tão gelada quanto o inverno.
Vamos deixar a beleza do inverno por uns instantes, e vamos falar de pessoas geladas e pessoas que mantém o calorzinho do outono. As pessoas geladas são as que têm medo de as pessoas que mantém o calorzinho do outono se sobressaiam a elas. Calma, explico-lhes. Todos os dias, em todos os setores de trabalho, lidamos, convivemos com pessoas que fazem a política da pressão psicológica. Isso mesmo, a política da pressão psicológica. Pergunto-lhes: quem de vocês, em algum momento já não ouviu um colega de trabalho dizer: claro que as pessoas gostam de você, faz tudo para agradar. Você precisa ser mais firme, precisa saber dizer não.
Pessoas que agem desta maneira são inseguras, e quando assim se sentem, começam a perseguir, a achar defeitos, a falar mal do colega de trabalho. Pessoas assim se sentem ameaçadas até pelo carisma do outro. E eu volto a questionar-lhes: não seria mais fácil pessoas assim repensar sua conduta? Repensar seu profissional? Não seria mais fácil pessoas assim se aproximarem da pessoa carismática, da pessoa querida, da pessoa simpática e tentar tornar-se uma pessoa tão bem quista quanto a que julga ser incompetente por ser querida? Não seria mais fácil se tornar gentil, se tornar agente?
Sensações... impressões... somos nós quem as construímos, somos nós que as deixamos, e uma vez construídas como o inverno, difícil desfazer esta imagem. Porém, acredito que até o inverno tem sua beleza, basta saber mostrar esta beleza e aliando-se ao calorzinho, mesmo que tímido do outono, pode-se mudar as sensações, as impressões... E eu sigo por aqui, observando, da sacada do meu apartamento, a neblina ofuscando as luzes da cidade. Mas isso não significa que elas não estejam insistindo para se sobressaírem à neblina...

Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 12/06/2011

A Concórdia que eu tive a sorte de conhecer.


     Pra quem não me conhece, e deve haver algumas pessoas nesse mundo nessa categoria, eu sou um sujeito que não gosta de viajar. Eu até acho que nem sempre fui assim, lembro vagamente que já me entusiasmei com a ideia de ir e vir, e lembro-me do prazer enorme que eu sentia ao entrar num ônibus pra uma viagem de mais de 24 horas por serras e campos e estradas sem fim desde Porto Alegre, onde vivia metade da minha família, para férias no Rio de Janeiro, onde vivia a outra metade. Mas eu tinha onze anos, mais ou menos, e muita coisa mudou desde então. Entre outras, eu virei um adulto metade jornalista e metade escritor, que é chamado para viagens o tempo inteiro, para todos os lados. Cheguei de uma cidade no interior de São Paulo ontem; daqui a três dias eu vou a Barcelona, Espanha, quatorze horas de vôos, cinco horas de diferença de horário, para voltar exatos quatro dias depois, ainda mais amarrotado do que já me sinto agora - direto para Fortaleza, no Ceará, dois dias depois da volta ao Brasil. Portanto, estimados leitores, quando sou convidado para ir a algum lugar, eu realmente penso em muitos, muitos motivos, que me façam não ir.
     Mas quando me convidam para ir a Concórdia, eu vou. Já fui três vezes, já falei para amigos meus irem, e isso tem um motivo muito simples: o trabalho desenvolvido pela turma do CNEC, e, em particular, o trabalho do ciclone extratropical também conhecido por professora Rosane Lazzarin. Além disso, o clima da cidade (e na minha última visita choveu o tempo inteiro, desde a chegada até a viagem até Chapecó no outro dia para pegar o vôo para São Paulo), uma intensidade cultural que dá pra se perceber, sendo como eu, um sujeito atento e curioso, mesmo que mau viajante. Vocês sabem, eu ando por muitos lugares, e acho que sei identificar uma cidade com personalidade quando eu encontro uma. E Concórdia é assim, para sorte minha por uns momentos, para vocês o tempo inteiro.
Eu continuo sendo um sujeito viciado em cidades mais do que grandes, exageradamente grandes, e, sinceramente, não penso em mudar de ares, mesmo sendo os ares de São Paulo o que eles costumam ser. Agora mesmo, depois de passar por Concórdia e, em outro extremo, Camocim, no Ceará, eu penso no tipo de escolha que pessoas como eu fazem, abrindo mão da possibilidade de viver em lugares onde o tamanho da cidade é o tamanho das pessoas da cidade. E penso no tipo de escolha que vocês fazem, ao morar em Concórdia. Hoje, esse tipo de escolha quer dizer que se pode ter tudo ao mesmo tempo: uma cidade como a de vocês, humana e com ar pra lá de respirável, sem abrir mão de conviver com o que existe no mundo lá fora, via internet, viagens, leituras.
     Gostei de encontrar novamente os ótimos leitores no CNEC; gostei muito de conhecer a turma de uma escola municipal, a EBM Nações, com um espírito fantástico e que me receberam com um carinho tão torrencial quanto a chuva que rolava.
     Vocês, estimados leitores e professores e pessoas de Concórdia me fazem mesmo pensar se eu faço a melhor escolha, vivendo onde eu vivo.
     O que eu penso é que vocês podem ir além, e tornar a cidade de vocês cada vez mais intensa, culta, interessante. Isso se faz com o tipo de atitude que promove eventos como esse que me trouxe até aí, pensando e debatendo livros, filmes, ideias - coisas de vida grande, para quem já tem uma cidade legal e se mostra curioso em saber mais sobre o que existe fora dela. Espero que vocês continuem assim, cada vez mais. E que, uma hora dessas, a gente arrume mais um pretexto para eu aparecer aí mais outra vez. Eu sempre tenho livros e filmes sendo lançados e isso ajuda.
     Enquanto isso, meus abraços a todos, meus agradecimentos, em especial ao pessoal da CNEC e do restaurante em frente ao hotel, que têm na sua adega o fantástico espumante Estrelas do Brasil, encontrável em raros lugares no Brasil, para um brinde a uma boa viagem. Coisas assim, junto com o jeito das pessoas daí, fazem toda, toda a diferença.
     Assim, um abraço, obrigado a todos, e até a próxima.

Por: Marcelo Carneiro da Cunha/jornalista e escritor/ 2010

OBS: Texto publicado na edição IV da Revista Magazine21