Inquietação...
sensação de mal-estar... vontade de ficar eu e eu e minha casa, mas o dever
chama, e se chama, preciso me agilizar, organizar minhas coisas e colocar o pé
na estrada... Enquanto arrumava minha mala, a cada roupa que colocava nela, meu
coração acelerava... Que sentimento estranho! Isso nunca me havia acontecido! O
que significa? Sim, meu coração já bateu acelerado de euforia antes de uma
viagem, mas de tamanha insegurança, nunca!
Enquanto
observava a paisagem, ouvia uma boa música, ficava de olho no velocímetro e
trocava algumas palavras com o motorista, pensava também na vida e no quanto
não temos controle sobre ela. É isso mesmo! Podemos até organizá-la para que
possamos vivê-la da melhor maneira para termos a sensação de controle, mas
controlá-la não. Não mesmo! Falo isso porque em questão de segundos podemos
perdê-la, ou podemos ver outra pessoa, ou outras perdê-la. Sim, podemos
perdê-la com a mesma rapidez de um raio, ou de uma freiada, ou de um estilhaçar
de vidros, ou uma forte batida, ou tudo isso junto, ou no mais absoluto
silêncio... é, no silêncio...
Dizem
que o sábio silencia, dizem que o silêncio diz mais do que mil palavras... e
diz mesmo! Acreditam que ele faz doer? Dói, e dói muito!
Hoje
quando saí de casa, silenciosamente, pedi aos anjos que me protegesse em mais
uma viagem a trabalho, e foi o que aconteceu, mas esqueci de pedir que
protegessem também aos outros. Ato egoísta? Não sei! Só sei que depois de ver
dois acidentes com 6 mortes e 37 feridos, se acentuou aquela sensação de
mal-estar que falei inicialmente, misturada com um vazio, com um sentimento
estranho... e o silêncio se instalou novamente, e este agora misturado com a
impotência de não poder fazer nada por aquelas pessoas, e as lágrimas que
insistiam em pular para fora dos meus olhos, sem nenhum controle!
O
ar estava pesado, as pessoas feridas, todos os outros pareciam zumbis, sem
saber o que fazer! De repente apareceram os anjos da guarda: bombeiros,
enfermeiros, médicos, policiais e pessoas solícitas que ajudavam tentando
salvar mais uma vida. As horas iam passando, aliás, já tinham se passado 5h, e
o cenário de horror ia se desmontando, se desfazendo... quisera eu que este meu
sentimento também fosse se acalmando ao mesmo tempo que a cena ia se
desfazendo. Mas não! Ele ficava mais silencioso, mais doído. E como se não
bastasse esta mistura de sentimentos, ainda tinha o cheiro. Sim, o cheiro de
óleo, o cheiro de combustível, e o pior de todos os cheiros... o cheiro de
sangue, de ser humano esmagado... Meu corpo desfalece...
Agora
eu me pergunto: o que é a vida? Ou, o que somos nós diante das peripécias da
vida? Cadê o controle que utopicamente achamos que temos? Não sei, ao sei, não
sei... Difícil tirar estas cenas da mente, difícil esquecer este dia...
O que era para ser só mais uma viagem a trabalho, se transformou em uma cena de
horror, de dor, de reflexão... e esta que vos escreve, mais do que nunca
agradece a proteção recebida e segue com a certeza de que deve sim deixar a
mesquinharia, os mesquinhos, e as mágoas de lado e perdoar, e viver... viver...
viver... enquanto a vida deixar!
Por: Rosane Favaretto Lazzarin