19 de jul. de 2011

A Concórdia que eu tive a sorte de conhecer.


     Pra quem não me conhece, e deve haver algumas pessoas nesse mundo nessa categoria, eu sou um sujeito que não gosta de viajar. Eu até acho que nem sempre fui assim, lembro vagamente que já me entusiasmei com a ideia de ir e vir, e lembro-me do prazer enorme que eu sentia ao entrar num ônibus pra uma viagem de mais de 24 horas por serras e campos e estradas sem fim desde Porto Alegre, onde vivia metade da minha família, para férias no Rio de Janeiro, onde vivia a outra metade. Mas eu tinha onze anos, mais ou menos, e muita coisa mudou desde então. Entre outras, eu virei um adulto metade jornalista e metade escritor, que é chamado para viagens o tempo inteiro, para todos os lados. Cheguei de uma cidade no interior de São Paulo ontem; daqui a três dias eu vou a Barcelona, Espanha, quatorze horas de vôos, cinco horas de diferença de horário, para voltar exatos quatro dias depois, ainda mais amarrotado do que já me sinto agora - direto para Fortaleza, no Ceará, dois dias depois da volta ao Brasil. Portanto, estimados leitores, quando sou convidado para ir a algum lugar, eu realmente penso em muitos, muitos motivos, que me façam não ir.
     Mas quando me convidam para ir a Concórdia, eu vou. Já fui três vezes, já falei para amigos meus irem, e isso tem um motivo muito simples: o trabalho desenvolvido pela turma do CNEC, e, em particular, o trabalho do ciclone extratropical também conhecido por professora Rosane Lazzarin. Além disso, o clima da cidade (e na minha última visita choveu o tempo inteiro, desde a chegada até a viagem até Chapecó no outro dia para pegar o vôo para São Paulo), uma intensidade cultural que dá pra se perceber, sendo como eu, um sujeito atento e curioso, mesmo que mau viajante. Vocês sabem, eu ando por muitos lugares, e acho que sei identificar uma cidade com personalidade quando eu encontro uma. E Concórdia é assim, para sorte minha por uns momentos, para vocês o tempo inteiro.
Eu continuo sendo um sujeito viciado em cidades mais do que grandes, exageradamente grandes, e, sinceramente, não penso em mudar de ares, mesmo sendo os ares de São Paulo o que eles costumam ser. Agora mesmo, depois de passar por Concórdia e, em outro extremo, Camocim, no Ceará, eu penso no tipo de escolha que pessoas como eu fazem, abrindo mão da possibilidade de viver em lugares onde o tamanho da cidade é o tamanho das pessoas da cidade. E penso no tipo de escolha que vocês fazem, ao morar em Concórdia. Hoje, esse tipo de escolha quer dizer que se pode ter tudo ao mesmo tempo: uma cidade como a de vocês, humana e com ar pra lá de respirável, sem abrir mão de conviver com o que existe no mundo lá fora, via internet, viagens, leituras.
     Gostei de encontrar novamente os ótimos leitores no CNEC; gostei muito de conhecer a turma de uma escola municipal, a EBM Nações, com um espírito fantástico e que me receberam com um carinho tão torrencial quanto a chuva que rolava.
     Vocês, estimados leitores e professores e pessoas de Concórdia me fazem mesmo pensar se eu faço a melhor escolha, vivendo onde eu vivo.
     O que eu penso é que vocês podem ir além, e tornar a cidade de vocês cada vez mais intensa, culta, interessante. Isso se faz com o tipo de atitude que promove eventos como esse que me trouxe até aí, pensando e debatendo livros, filmes, ideias - coisas de vida grande, para quem já tem uma cidade legal e se mostra curioso em saber mais sobre o que existe fora dela. Espero que vocês continuem assim, cada vez mais. E que, uma hora dessas, a gente arrume mais um pretexto para eu aparecer aí mais outra vez. Eu sempre tenho livros e filmes sendo lançados e isso ajuda.
     Enquanto isso, meus abraços a todos, meus agradecimentos, em especial ao pessoal da CNEC e do restaurante em frente ao hotel, que têm na sua adega o fantástico espumante Estrelas do Brasil, encontrável em raros lugares no Brasil, para um brinde a uma boa viagem. Coisas assim, junto com o jeito das pessoas daí, fazem toda, toda a diferença.
     Assim, um abraço, obrigado a todos, e até a próxima.

Por: Marcelo Carneiro da Cunha/jornalista e escritor/ 2010

OBS: Texto publicado na edição IV da Revista Magazine21 

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