16 de out. de 2011

Professor: uma composição...


“Nós temos medo e desejo, somos feitos de silêncio e som”, assim diz Lulu Santos em uma de suas belas canções. E quem não o é? Quem diria que ao compor esta música, estaria ele traçando o perfil de milhares, milhões de trabalhadores brasileiros, e por que não seres humanos como um todo? Deter-me-ei, então, em minha profissão. A profissão professor. Aquela que é super constituída de medo e desejo, silêncio e som.
Muitos perguntariam: o professor tem medo de quê? Respondo-lhes, com a voz e a experiência desta profissão, tão pouco reconhecida, e por muitos, não lembrada: o professor tem medo da violência verbal, da violência gestual, da intimidação; tem medo de determinadas atitudes; tem medo do vocabulário inadequado; tem medo da vulgaridade; tem medo de expressões faciais maldosas; têm medo de olhares severos, olhares reprovadores; tem medo de ser hostilizado; tem medo de adoecer em decorrência de tudo isso; enfim, tem medo do medo...
Ah! mas o professor tem desejos! Sonha com estes desejos que possam fazê-lo superar o medo! Desejo de um ambiente saudável; desejo da retomada de valores; desejo de mudança de postura; desejo de carinho; desejo de ser visto de verdade; desejo de ser respeitado de verdade; e principalmente, desejo de ser valorizado e não de dissimuladamente, ser tratado como incompetente; desejo de não adoecer; desejo de ser ouvido; desejo de não ser hostilizado; desejo de condições dignadas de trabalho; desejos, desejo e desejos.... que tem como sinônimo: esperança, esperança e esperança...
E o silêncio? O que nos faz calar? O silêncio é reflexo do medo... este medo que oprime, que constrange... Silenciamos porque por muitas vezes precisamos; silenciamos porque este silêncio também garante nosso sustento. Silenciamos, porque o silêncio também é gentileza, e por muitas vezes, uma poderosa ferramenta para demonstrar a indignação, ou até mesmo para camuflar esta indignação.
Somos feitos de medo, de desejo e de silêncio... mas, felizmente, somos feitos também de som!! Porém, quem é feito de som, nem sempre é bem visto, ou melhor, quase sempre é visto como incomodativo, estressado, alterado... Quem emite o som, aquele som que pede mudanças, que reivindica dignidade, respeito, normalmente não é bem quisto. Muito bem, que não o seja bem quisto por todos, mas que continue emitindo este som, tão necessário em todas as profissões.
Professor, você que é constituído de medo, desejo, silêncio e som, e que ainda gosta de ser professor, receba o respeito e o carinho desta que vos escreve, que é constituída de todos estes sentimentos, que deixa aflorar mais o som, como podem perceber, e que ainda gosta de ser professora, profissão tão nobre quanto tantas outras, porém esquecida por quem mais gostaríamos que lembrassem: a comunidade escolar. Como diz a canção: “tem certas coisas que eu não sei dizer...”.
Por: Rosane Favaretto Lazzarin – 15/10/2011

3 de out. de 2011

A cidade de cimento

 
Movimento, barulhos, sirenes, carros, buzinas, helicópteros, pessoas, pessoas e pessoas... A cidade de cimento é medonha, a cidade de cimento é sinistra, a cidade de cimento é assustadora, a cidade de cimento é intrigante, mas a cidade de cimento também é encantadora, é atrativa, é humana, e satisfaz a todos os gostos. Ela não para nunca. Você tem tudo a toda hora, seja dia, ou seja noite.
Esta cidade de cimento recebe todo tipo de gente todos os dias. E recebeu gente como nós. Alguns curiosos, outros ansiosos, outros ainda encantados e porque não dizer apreensivos ou talvez decepcionados. Muitas reações... sim, porque ela tem esta capacidade, a de despertar muitas reações.
Ao percorrer as ruas de cimento, da cidade de cimento, começo a observar as construções de cimento. O que tem por trás daquelas portas, daquelas paredes de cimento? Quantas vidas se escondem aí? Quanto sofrimento? Quanta alegria? Quantas histórias? As mais diversas, com certeza. E agora esta cidade de cimento, onde também há muito sentimento, passa a fazer parte da minha história, da nossa história!
Quantas belezas/oportunidades a cidade da garoa nos proporciona e que constatamos no nosso itinerário: a imponência do Museu do Ipiranga; a biodiversidade do aquário; o terror e o pânico despertado pelo filme escolhido para ver no cine Imax; a diversão, a adrenalina, a loucura do Hopi Hari; o encantamento das palavras no Museu da Língua Portuguesa; a paixão pelo futebol no Museu do Futebol; a diversidade e interatividade da Fundação Cataventos; a magnitude da Livraria Cultura e a modernidade da Avenida Paulista. Ah! e o espetáculo musical! Este, reservo um parágrafo a parte.
Na cidade de cimento tem emoção, tem Teatro Bradesco, e nele As Bruxas de Eastwick, uma comédia musical de John Dampsey e Dana P. Rowe, com versão brasileira de Claudio Botelho. Um verdadeiro espetáculo, destes de deixar qualquer um com gostinho de quero mais, eu disse qualquer um, todos. E foi assim que ficamos quando acabou o primeiro ato... todos voltaram rapidinho para ver o que o espetáculo, com orquestra ao vivo, tinha ainda para nos oferecer. E tinha ainda mais do que já nos oferecera... uma comédia baseada na história de três amigas entediadas e frustradas com a pacata cidade de Eastwick, que dividem o desejo pelo homem ideal. Com a chegada de Darryl Van Horne à cidade, extremamente sedutor, desperta em cada uma a necessidade de liberar seus “poderes”. O comportamento nada ortodoxo do quarteto escandaliza a cidade... Enfim, Maria Clara Gueiros, Eduardo Galvão, Fafy Siqueira e elenco, dão um show em uma comédia musical, sensual e misteriosa, que fez todo  espectador, inclusive nós,  se deliciar e morrer de rir! Chega, filhote de família Adams!!!
Na cidade de cimento, tem gente cansada... tem gente reclamando... tem gente perguntando... gente andando de metrô... gente machucada... gente perdendo documentos... gente indo para hospital... gente sem sono... gente barulhenta... gente com seu idiomaterno... gente com seu idioma materno e gente com seu idioma terno.... São Paulo é isso... tem gente de todo tipo, gente de todo gosto... gente como nós, como eu, como você!!! Gente que busca viver feliz, que busca ser gente!
Por: Rosane Favaretto Lazzarin - 03/10/2011